A auto-estima, que podemos chamar também de estima de si ou sentimento de si, muitas vezes tem sido tomada como um critério para avaliar o sofrimento e suas origens. É um pensamento comum da nossa cultura atribuir a causa do sofrimento a uma baixa auto-estima. De modo similar, pensamos que quem tem uma estima de si elevada está satisfeito com sua auto-imagem, não está lutando pelo reconhecimento do outro e é consequentemente alguém mais feliz. Contudo precisamos olhar para essa questão com mais atenção, porque nem sempre essa é uma equação tão simples quanto parece.
Para compreendermos melhor o sentimento de auto-estima devemos levar em conta que este sentimento relaciona-se intimamente com os ideais que forjamos para nós mesmos. Nossos ideais são nosso horizonte, o farol que ilumina o caminho do nosso desejo. Miramos os ideais para nos mover na direção daquilo que queremos. Esses ideais são simbólicos e apontam para pessoas, personagens e também ideias que admiramos.
Quando os ideais são muito elevados, a expectativa em relação a si mesmo é muito alta e nos sentimos sempre aquém. O esforço para ajustar a estima de si ao ideal é grande demais e nunca é suficiente. Nesse caso uma idealização excessiva de si mesmo e do outro pode levar a sentimentos de inferioridade. Casos como esse podem acontecer por exemplo quando os pais elogiam demais e dizem sempre para criança o quanto ela é especial. Quando o mundo não confirma a idealização excessiva dos pais, a pessoa sente-se muito inferior em relação ao ideal que tinha de si mesma. Neste caso, uma aparente auto-estima baixa pode estar relacionada a um ideal de si muito elevado, e portanto inatingível.
Por outro lado, se os ideais são muito baixos, produzem uma baixa estima de si, resultando em uma dificuldade de investir emocionalmente na busca pela realização dos projetos de vida e dos desejos. Neste caso, a baixa estima de si provoca o mesmo sentimento de inferioridade que estava presente em pessoas que tem ideais inalcançáveis. Quadros de baixa auto-estima que estão relacionados a ideais de si muito baixos podem ter origem em situações de desamparo, traumas e na privação de amor, que acontece quando a criança interpreta que não foi tão amada quanto poderia.
Nossa cultura super-valoriza a auto-estima e coloca em segundo plano o risco que temos que correr em relação ao sentimento de si para perseguir nossos desejos. Ao desejarmos, nossa auto-estima pode ficar fragilizada. É o que acontece por exemplo quando nos apaixonamos e nos declaramos para alguém. Esse gesto inclui o risco de não sermos correspondidos, daí nossa posição de fragilidade. Se o medo da frustração e da rejeição nos faz recuar no risco do nosso desejo, se escolhemos sempre proteger nossa auto-estima, nosso sentimento de si, ficamos mais vulneráveis ao sofrimento e aos estados depressivos.
Na psicoterapia, quando tratamos de questões relacionadas à auto-estima, precisamos atentar para o ideal de si mesmo que cada um toma como parâmetro para se auto-avaliar. O sofrimento pode estar presente se os ideais são excessivamente altos e também se são excessivamente baixos. Tão importante quanto a auto-estima, é a relação que cada um estabelece com seus desejos, e a capacidade de correr os riscos para levar seus projetos adiante.
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