A imigração é uma das contingências da vida que pode nos expor a estados de sofrimento psíquico e desorganização interior. A imigração pode ser pensada como um processo de desenraizamento, e enraizar-se novamente é algo que pode ou não acontecer.
O encontro com uma nova cultura nos coloca diante de uma ruptura com tudo aquilo que era familiar, isto é, com a constelação de referências que nos davam uma ideia de unidade e continuidade. Perda da língua materna, dos costumes, da família, amigos, do conhecido e da sensação de pertencimento. A perda desses referenciais de origem são a marca da posição subjetiva do estrangeiro. A experiência de integrar-se em outra cultura pode despertar em nós os sentimentos de estar perdido, desamparado, incapaz de compreender as novas regras sociais e os enigmas das relações humanas. O estrangeiro é desafiado a interpretar e dar sentido a esse caos inicial.
Para além dessas dificuldades internas, o estrangeiro pode ser alvo de hostilidade e preconceitos e ser visto como uma ameaça na nova cultura que o recebe. Para que exista um conjunto é necessário ao menos um elemento exterior para delimitar a diferença. O estrangeiro é este um, o diferente que causa estranhamento e que, para a “segurança” do conjunto, muitas vezes pode ser alvo da violência. Assumir uma posição de renúncia da própria cultura, língua e modos de expressar-se pode ser uma tentativa de proteger-se da violência.
É comum que o imigrante idealize um retorno, pois retornando acredita poder voltar ao que era e ao que acreditava ter. Porém, os que permaneceram em seus países não compartilham da experiência de desenraizamento e as mudanças contínuas e cotidianas podem tornar estranho o lugar de origem . O estrangeiro se encontra, então, em um desenraizamento solitário. Não pertence mais ao que era e tampouco se sente parte do que o presente lhe apresenta.
Se a experiência de imigrar e ser estrangeiro em outro país pode trazer tantos desafios, essa experiência também pode ser oportunidade de amadurecimento e emancipação, colocando em evidência a questão do que é familiar e do que estranho. Nos afastando de nossos referenciais de origem, e indo de encontro a essa nova cultura, temos também a oportunidade de vivenciar um encontro conosco, reconhecendo o que é estranho e familiar em nós mesmos.
Na direção de um movimento de enraizar-se novamente, é importante que se faça um trabalho de elaboração do luto pelas perdas que fazem parte do processo de imigração. Acessar as memórias, resgatar aspectos da origem, contar sua história, são uma forma de costurar essas experiências, produzindo efeitos curativos e de enraizamento. A psicoterapia pode ser uma importante aliada nesse processo.